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sábado, 1 de outubro de 2011

O CASO MARRANO EM SERGIPE



Data: 17/09/2008


A elaboração de estudos voltados ao marranismo no Brasil tem despertado a atenção dos historiadores para uma nova elaboração da História do Brasil Colonial, partindo do pressuposto do quanto é grande a importância dos marranos na construção dessa mesma história. Marranos são todos aqueles que, forçosamente, tiveram que aderir ao catolicismo no passado. Este processo vem desde a região da península ibérica, mas especificamente a partir do século XV quando começou a perseguição a todos aqueles que praticavam o judaísmo. Cabe lembrar, ainda, o quão foi grande a resistência desse povo à época, uma vez que nesse mesmo período houve o processo da Inquisição com enormes perseguições e até a execução daqueles que transparecessem heresias perante a Igreja. Logo, perseguidos, os descendentes dos judeus espalharam-se por vários países da Europa, como também muitos deles vieram parar nas terras brasileiras, deixando aqui suas marcas, sua herança cultural, tais descendentes receberam, a priori, a nomenclatura de cristãos novos, marranos e anussim.

Pesquisadores brasileiros como a professora da USP, Anita Novinsky ou mesmo o professor Ronaldo Vainfas da UFF, já estudam o marranismo no país, ambos focados nos processos inquisitoriais, os quais são as principais fontes para o estudo. Sobretudo, processos arquivados na Torre do Tombo, em Portugal. Os dois estudiosos aqui citados possuem renome no cenário nacional e internacional quanto aos seus estudos sérios sobre os marranos e sua contribuição para a formação da identidade brasileira, todavia, cabe lembrar que os estados do Nordeste são de suma importância para o estudo. No entanto, o estado de Sergipe ainda não foi devidamente estudado, com critérios científicos, o que tem deixado esse mesmo estado fora da historiografia marrana. Duas cidades sergipanas chamam a atenção sobre uma provável herança marrana em Sergipe, são elas, Cedro de São João e a cidade de Porto da Folha, ambas com características culturais que, parcialmente, são divergentes de cidades que pertencem à própria região que elas estão inseridas.

Em determinado momento da produção bibliográfica sergipana, mais especificamente na década de 1950, o antropólogo Felte Bezerra, levanta indícios da origem de determinadas cidades sergipanas que têm sua formação em povos, até então, com origens que deixam indagações sobre sua verdadeira herança cultural. Na análise de Felte Bezerra, a cidade sergipana que mais chamou sua atenção quanto à sua origem, foi Cedro de São João. Segundo Bezerra (1950: p. 88) [...], muito especialmente, Cedro (hoje chamam Darcilena), talvez o maior reduto dos elementos em estudo. Dessa forma, o antropólogo indica a cidade de Cedro de São João, à época do seu estudo chamava-se Darcilena, como um importante reduto desse povo de origem duvidosa perante os demais povos da região. Diante dessa afirmação relevante, a cidade padece de um estudo criterioso sobre sua real formação étnica, uma vez que os estudos elaborados, em outrora, sobre a formação do povo cedrense, remete a um povo de origem cigana. Este fato deixa ainda mais indagações, pois se a formação cedrense realmente procede de uma comunidade cigana, faz-se necessário reavaliar a concepção do vocábulo cigano no período da formação do Brasil. A cidade de Porto da Folha também é indagada pelo antropólogo Felte Bezerra, esta cidade gerou na sua pesquisa uma curiosidade sobre sua verdadeira formação étnica.

Diante das informações aqui relevadas, tem-se que apresentar também que os estudos sobre os marranos no Brasil ainda não incorporam o estado de Sergipe com tanta veemência, contudo, há indícios de que o estado também fez parte da rota desse povo. A professora Anita Novinsky, da USP, fez um importante levantamento das famílias marranas na Paraíba no período da Inquisição, a estudiosa se deparou com vários processos inquisitoriais naquela região e, por conseguinte, elaborou uma bibliografia que ainda era desconhecida da história colonial nordestina. Outros estudos também já foram realizados pelo país, como o estado de Minas Gerais, estudado principalmente pela própria professora Novinsky. O Rio de Janeiro também tem seus estudiosos sobre marranos e ascendentes, como autoridade no estudo apresenta-se o professor Vainfas da UFF. Vários outros estudiosos espalhados pelo Brasil têm apresentado à contribuição marrana na cultura de muitas localidades.

O esforço sobre o estudo do marranismo apresenta-se como instigante para cada pesquisador dessa linha, uma vez que envolve a elaboração de critérios e de recursos metodológicos cada vez mais aprimorados. Ademais, estudar o marranismo e suas heranças culturais é, acima de tudo, um trabalho que envolve muita atenção aos mínimos detalhes de cada cultura, dos hábitos, práticas e costumes da sociedade em estudo. A História do Brasil Colonial deve ser revista sempre que necessária, pois atualmente está comprovada a importância do estudo da micro-história para a elaboração de conceitos sobre a ormação nacional. O estado de Sergipe ainda carece de estudos sobre sua formação, centrado mais no povo, nas culturas locais. Portanto, os indícios existem, urge a valorização de mais estudos centrados no povo, nas suas culturas. O marranismo em Sergipe começa a ser desvendado, e a cidade de Cedro de São João,citada neste artigo, assim como Porto da Folha, podem trazer ainda mais respostas às dúvidas sobre a real formação do povo sergipano.



* Guilherme Teles é Licenciado em História pela Unit/SE. Membro do grupo de pesquisas GEM/GPCIR do Departamento de História da UFS. e-mail: prof_guilhermeteles@yahoo.com.br
INDICADO POR: João Paulo Gama - Mestre em história pela UFS.



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