Translate

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ESTAÇOES


Conheci Diana numa Primavera.
Dentre tantas cores era a flor perfeita,
aroma de rosas e a maciez das pétalas.
Naquela manhã feliz, chovera.

No Verão passado secou a flor,
tão frágil! não resistira ao calor,
De tanto desamor.
As lembranças minhas, clamor!

Cair aos prantos,
como caem as folhas do Outono.
e, sobre jardins e flores, escrevi  contos.

O Inverno chegou
ressurgi dos prantos.
Diana me amou.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

QUAL O TAMANHO DA SUA FÉ?

Há quanto tempo vem a Igreja – entenda-a, a princípio, como uma instituição -, ensinando verdades, presente ou não na Bíblia, e pregando a cerca de um Cristo que é o próprio Deus, além de demasiadamente humano e pobre, eixo central de uma religião popular onde se fundira, harmoniosamente, o natural e o sobrenatural, o medo da morte e o impulso em direção à vida, a tolerância às injustiças e a revolta contra a opressão e por fim Deus e o Diabo [por que não grafá-lo em letras maiúscula também?]. Peço paciência ao leitor e que guarde, ao menos até terminar de ler estas poucas palavras, toda sua raiva e repulsa contra esse escrevinhador.
Convido-os a embarcar nesse universo imaginativo e especulativo, assim como o fez no passado, Virgínia Woolf, quando retratou a irmã de Shakespeare, em seu livro um quarto só para si. Mas, vejamos, se Cristo, usando o modelo da escritora citada, tivesse sido um rabino, por conseguinte, pertencente a uma elite pensante, sem deixar de ser carpinteiro, pescador, camponês, lavrador, etc – pois, era comum esses homens terem uma dessas profissões, ou mais de uma – ou quem sabe, fosse um cobrador de impostos, ou ainda, um membro da aristocracia, pergunto: qual seria os efeitos dessa condição para a importância de suas idéias e ensinamentos? Ou ainda, se comportaria Cristo de maneira diferente? E, por isso, seria desmerecedor de ser seguido e seus conceitos ensinados? Se a resposta a todas estas questões for de efeito negativo, me parecerá assemelhado a uma falsa modéstia tais respostas, quando pretende se elevar a proporção que se humilha, ao fazer uso de uma imagem de humildade, ou pobreza para gozar de uma outra imagem de prestígio, como revela Ludwig Feuerbach em sua obra a essência do Cristianismo.
Insisto, e se Cristo fosse um comerciante? Como se traduzir a idéia e simbologia da pobreza, na lógica cristã, para as classes populares? Aqui, caros leitores, se estabelece uma encruzilhada entre as idéias ensinadas por Cristo e as idéias imposta aos fieis como sendo de Cristo. Peço que não se zanguem com este escrevinhador e escutem as explicações. Há nessa diferenciação anterior, um pequeno problema, afinal, a Bíblia foi escrita por homens sob inspiração divina, e digamos que essa seja uma verdade inexorável, pergunto: temos acesso aos originais escritos por estes homens-santos, ou santos-homens? E, se os tivéssemos diante de nós entenderíamos os escritos bíblicos, ou aceitaríamos de bom alvitre caso possuíssem verdades, muy distinto, divergente? Vale lembrar, que o conceito de Deus para os cristãos remete a um Deus pessoal, contrariamente a outros sistemas de pensamento, cito como exemplo, o conceito estabelecido pelos estóicos, pois para estes a idéia de Deus seria concebida como a ordem do mundo, onde o menor, ou mais ínfimo ser vivo é tão importante quanto qualquer outro para a ordem bela e justa, ou seja, Deus.
Retomando o raciocínio, diante da impossibilidade [do acesso aos textos originais] temos que nos servir, sobretudo, das traduções que nos chegaram. Aqui, novamente, nos deparamos com outra dupla indagação: primeiro estes textos não são os originais, portanto, não podemos tirar nossas próprias conclusões diretamente da fonte primária, segundo, as traduções é resultado das interpretações de homens pertencente a uma dada religião dominante – se não no mundo, em boa parte dele. Salvo, se for possível entender essas interpretações como sendo de homens santos, e, logicamente, no mesmo calibre dos que escreveram os livros que constituem a Bíblia.
As indagações ora levantadas não possuem o intento de diminuir, nem tão pouco extirpar a fé alheia, apenas convida alguns a passear pelos jardins floridos do Inferno e descobrir que o Diabo é figura central, quiçá essencial, para a legitimidade e manutenção do poder de Deus entre os homens, inclusive, trato-o como figura, porque se este é tido como espírito para as religiões, logo, não tem, ou não deveria ter aspecto corpóreo, daí compartilhar com as idéias de Carlos Roberto F. Nogueira em seu livro O Diabo no imaginário Cristão, onde afirma que os homens, ao serem submergidos na cultura e mentalidade próprias de cada época, acaba por pintar esta figura com as cores que lhes convém, vejam-no, então, ao menos nesse texto, como uma representação construída por meio de discursos, afetividade, ou iconografia, que não passa de mero produto da História.
Inclusive, espero seguramente, não seguir [por conta de tais questões] o mesmo destino de Domenico Scandella, o moleiro Menocchio, e de tantos outros homens e mulheres importantes para a maturidade da humanidade e que tiveram sua energia, potencial, sapiência e vidas, queimadas nas fogueiras armadas por homens-santos, ou santo-homens que “legitimamente” eram os herdeiros de Cristo, este, inclusive, paradoxalmente, enquanto viveu não retirou nenhuma vida – ao menos não há registros – ao contrário, deu vida a quem a havia perdido, exemplo maior, Lázaro.
Convido Michel Foucault a imiscuir suas idéias nesse capricho imaginativo, ou, talvez, para ser mais justo, aquilo que conseguir sorver do pensamento deste. Foucault ao tratar dos procedimentos de exclusão, menciona entre esses a interdição, a partir do qual entendi que não possuímos o direito de dizer tudo – se é que, de fato, sabemos algo -, assim, como não se pode falar tudo em qualquer circunstância e, que os indivíduos, a maioria das vezes os populares, não podem falar de qualquer coisa, que o diga o moleiro, que deveria saber que as coisas da fé são grandiosas e complexas por demais para que um pobre moleiro possa compreendê-las, resultado por ignorar tal aviso, teve seu corpo – será que a alma também? - queimado na fogueira. Seguindo este raciocínio, se eu bem soubesse não escreveria, tão pouco publicaria estas palavras, pois nesse instante, não reúno condições de avaliar as circunstâncias, os efeitos e utilidade prática dessas palavras. Pois bem, espero com isso, que me enquadrem na condição de louco. Aqui, já estou a tratar de outro procedimento apontado por Foucault, o da separação, exclusão, qual seja, a oposição entre razão e loucura e o cruzamento de duas linguagens de exclusão, a judiciária e a psiquiátrica, que alternadamente, inclinam-se entre si para negar uma à outra. Imaginemos os efeitos de um laudo psiquiátrico na condenação de alguém.
O discurso do louco, assim como este que o leitor a contragosto está a ler, não poderia, ou não pode circular e, ainda que o faça, deveria ser na condição de nulo, ou se melhor o agrada, não condição de não-verdadeiro. Sendo mais objetivo, o discurso do louco não é socialmente aceito, ou no mínimo, não é merecedor de testemunhar em juízo, assim como lhe é proibido celebrar no sacrifício cotidiano da missa, a transubstanciação [palavra adotada pela Igreja Católica, com origem na filosofia escolástica, que explica a presença real de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia], que converte o pão em corpo. Todavia, esse louco para Foucault, assim como minhas palavras nesse momento, goza de um estranho poder, qual seja, o de pronunciar verdades poderosas, ou coisas que as instituições possuidoras do discurso verdadeiro e sapiência acadêmica coberta de títulos e hierarquizada não podem perceber.
Informo ao leitor que este texto aproxima-se do seu fim, menos pelo fato de não ter mais o que dizer, do que pelo receio de como será recebido. Afinal, como afirma Nilton Bonder em uma belíssima obra, a mim serviu de inspiração, intitulada A alma imoral; essas reflexões trazidas por mim e, que ora se apresentam como fraturas expostas, que a primeira vista pode causar náuseas, em neófitos nessas indagações, é fruto da minha alma imoral e transgressora, que se debate com meu corpo [em uma tensão necessária ao equilíbrio de ambos] tido como instrumento do pecado e que clama pela piedade de Cristo. E, é esse mesmo corpo senhores, assim como muitos dos de vocês, que não passam de meros mantenedores do status quo, ou melhor, da moral vigente. Moral esta que da mesma forma que em tempos bíblicos precisou, e precisa sempre, ser quebrada para gerar uma nova moral, nesse ponto cabe, citar as religiões, que como arautos se anunciam herdeiras de Cristo e guardiãs das almas, quando na verdade, não passam de guardiãs de corpos e, conseqüentemente, de morais.
Assumo a ousadia – não meu corpo, mas minha alma - de me colocar no lugar de Adão, comedor de maça, imoral, descumpridor da Lei e pecador primevo. Aqui, cabe uma melhor explanação dessa passagem, pois quem transgrediu não foi o corpo de Adão, pois este guardou a máxima “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra” (GN: 1,28), quem traiu, ou transgrediu, foi a alma, pois esta não respeitou a ordem Divina, a cerca do fruto da árvore que está no meio do jardim “Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais” (GN: 3,3) o que estar no cerne da questão não é a morte ou o pecado, mas a própria vida e seu eterno caminhar, a consciência, “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueiras, e fizeram para si aventais” (GN: 3,7), afinal, só existe nudez para aquele que se percebe nu, ou será que estou enganado?
O segundo exemplo é o de Abraão, que recusa no seu íntimo, ou seja, sua alma rejeita a idéia, mas o seu corpo conduz seu primogênito ao altar para sacrifício, o não sacrifício defendido pela alma é uma traição a cultura da época e ao mandamento divino, que ordena a Abraão que este sacrifique o seu primogênito. Abraão representa o transgressor social, sua traição foi para com a sociedade, se Adão traiu a Deus, Abrão trai a sociedade, e relegou ao seu filho uma terra nova, a Canaã, essa terra prometida precisa ser melhor debatida, afinal, trata-se de espaço territorial? Ou de uma sociedade nova, com código moral renovado? Acredito, pois isso me consola,se tratar de uma nova moral, “o não sacrifício”, no sentido estritamente figurado, representa o pai que concede ao filho a possibilidade de ser diferente e não o obriga a seguir a tradição, onde filho de médico tem obrigatoriamente que ser médico, a beleza de Abraão, ou da transgressão de sua alma, é que ela concede outras possibilidades, que será vista como imoral em relação à moral suplantada.
Por último, temos o exemplo de outro imoral bíblico, Jaco, a transgressão deste é para com a família, pois ele rouba a primogenitura do irmão valendo-se da cegueira do pai. Poderia citar outros exemplos de transgressão, ou imoralidade descrita na Bíblia, até chegar ao símbolo maior dos cristãos e do Cristianismo, o próprio Jesus Cristo. Mas, seria arriscar-me por demais - se ainda estivesse a falar para judeus - deixo, apenas, uma sugestão aos leitores, busquem ler a genealogia do filho de Deus, porém não se atenham, apenas, a sucessão de pais e filhos, mas a relação entre esses. Ao fazerem isso, espero que não se assustem ao perceber essa geração como imoral, pois o Cristo é fruto de ascendências que mantiveram relações imorais, como o incesto, calma leitor, não é minha pretensão assustar-lhe, entenda essas relações fora do universo divino, ou da fé, pois isso o impossibilitará de raciocinar dentro da linha que tenho arduamente tentado traçar, a dos discursos, e, ainda por cima, colocaria este texto na condição de blasfêmia.
Quando as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas por ordem divina, a família de Ló fora salva e pensaram as filhas de Ló, que só havia no mundo eles, então, essas embriagaram o pai e geraram filhos com este, a primeira vista é um atitude imoral, mas para a alma a lei máxima é a vida. Jamais seria permitido pela moral da época - e coincidente, ou acidentalmente pela nossa também - tal atitude. Acredito que já forneci subsídio suficiente para instigar-lhes a leitura da genealogia bíblica até a geração última do Messias.
Retomando Foucault, quando fala sobre a ritualização dos discursos como um jogo, onde a disputa recai sobre os signos, pergunto-lhe: onde se encontra você leitor nesse jogo? Onde se encontra, ou melhor, de que lado se posicionam os gays, as lésbicas, os sem-terra, os marginalizados de toda ordem? De que lado do jogo Cristo estaria? E por que os herdeiros de Cristo, essa é minha visão, estão no lado contrário ao que, certamente, Cristo estaria?
Para não tornar essa discussão cansativa e mais complexa, de modo que, assim como um aprendiz de feiticeiro, me ponha a liberar forças, as quais eu não possa controlar, tentarei ser o mais objetivo e direto possível. Enfim, certo é que vivemos há muito em “sociedades de discursos”, e nesse modelo de sociedade os discursos tem papel central, afinal, essa mesma sociedade é responsável por produzir, conservar e fazer circular discursos, distribuindo-os e fixando papeis aos sujeitos que falam, conforme regras estritas sem que os detentores dos discursos percam a posse dos mesmos em conseqüência da distribuição, perceberam o trocadilho, ou suas mentes já estão aos nós com toda essa falação?
Uma das virtudes do pensamento foucaultiano é que ele nos instiga a buscar, não apenas o começo dos discursos [sejam religiosos, jurídicos, médicos, terapêuticos, políticos, et cetera] e dos modelos arraigados socialmente, mas, fazer as seguintes indagações: porque esses discursos surgiram? E para atender a que interesses? A quem se destinam?
Pergunto aos sobreviventes, que pacientemente acompanharam esse texto até esse momento: qual o papel do sistema de educação na elaboração, manutenção e destinação dos discursos? Não deixem de incluir o discurso religioso, claro, pois este tem papel fundamental na construção da fé dos fiéis, ou vocês pensavam que a fé surge do nada? Talvez, eu esteja enganado, alguém pode acordar e se dar conta que tem fé. Distrações a parte, voltemos ao sistema de educação, seria estes uma maneira política de manter, ou mesmo, modificar a apropriação dos discursos ditos oficiais, ou verdadeiros e, lógico, acompanhado dos poderes e saberes que estes trazem conseqüentemente consigo?
Uma coisa eu tenho como verdade [com essa frase acabo de me posicionar no jogo, se é que não o fiz desde o princípio], todo sistema de ensino, toda doutrinação é uma ritualização da palavra, bem como a fixação de papeis ao sujeito que fala. Caro leitor, não sou teólogo, não me pretendo filósofo, pois segundo Luc Ferry teria que possui outros atributos, talvez seja poeta, isto é, um loco, ou ainda quem sabe, seja um moleiro assim como Menocchio, contudo não me tirei por tolo, sei perfeitamente que o século XVI não é o século XXI e este escrevinhador não é contemporâneo de Domenico de Scandella. No entanto, sei ler, escrever e vez ou outra me atrevo a pensar, isso tudo, em um mundo onde poucos sabem. Meu convite caro leitor foi para que você tente olhar o mundo e as verdades com outros olhos, retirem agora o véu que turva sua visão! Saiam das cavernas de Platão! Queira entender o mundo não a partir da putrefação e dos vermes, mas a partir da deusa Moria, a loucura, pois somente assim podereis dizer livremente [assim como faço nesse instante] suas verdades, gozando da prerrogativa de não ser verdadeiro o que dizes, nem profícuo suas palavras.
Certamente, não será o primeiro, nem o último. Assim, como Mendel ao pronunciar suas descobertas, fora ignorado pelos seus pares, apenas, por seu discurso não figurar nos moldes do “verdadeiro”, afinal, Mendel não seguiu as regras e conceitos dos discursos biológicos da época, enquanto outros tantos erros foram aceitos como verdades [qualquer semelhança com os discursos da ciência e da religião nos dias atuais é mera ironia do destino] por seguir as mesmas regras e conceitos ignorados por Mendel. Trago outro exemplo, não mais extraído da Bíblia, a saber, trata-se de um sergipano ignorado e esquecido, Manuel Bomfim, outros tratam por Manoel Bonfim, quando em sua época, o pensamento europeu colonizador, dominante na América, impedia os americanos de pensar o problema da América Latina, este pensador apaixonado por sua terra consegue revelar um olhar capaz de traduzir a realidade dos povos desse continente, apresentado seus males de origem, contudo sua voz era solitária, talvez, tratasse de mais um louco. Bomfim foi duramente rechaçado pela elite dominante no país, entre os críticos figurava outro sergipano ilustre Silvio Romero, que publicou inúmeras cartas nos jornais condenando as idéias de Bomfim, as críticas representavam naquele momento a incapacidade de pensar fora das regras e conceitos do “discurso verdadeiro”.
Nesse instante, ao passo em que agradeço pela companhia dos leitores, lanço minha última reflexão, caso Jesus Cristo vivesse entre nós, não imaginem o Homem que é Filho e Pai ao mesmo tempo, seria um homem seguidor da moral, ou um imoral transgressor? Seríamos capazes de repetir - a pergunta é direcionada para cada um de nós, assim como para os representantes de religiões, poder institucionalizado - o que fizeram os judeus [essa é a verdade socialmente aceita] a Cristo, crucificando-O. A resposta, positiva ou negativa, a essas questões depende, única e exclusivamente, do tamanho da sua fé.

José Ailton Santos

PECADO

Por que devo sentir inveja dos que acreditam,
só existir é necessário para ser pecador,

Eu não,
quero ter direito,
direito de pecar,
comer sem ter medo de faltar,
Quero roubar o fruto das mulheres para alimentar meus músculos,
 saboreá-lo e sentir prazer,

Quero a fúria irascível e a preguiça mental,
não quero ter crise de consciência,
mas, a soberba de quem é superior,

A mim não basta ser pecador,
quero mesmo é pecar.

Sentir o pecado como a chama da cratera do vulcão,
quero o excesso, o poder, o sexo.

E a certeza de que ninguém baterá em minha porta
empunhando uma foice e
sem aguardar consentimento,
estar comigo.